A série “Cru” é um conjunto de pinturas e objetos em acrílica e óleo sobre madeira. Nessa pesquisa o artista aborda a identidade da pessoa idosa, sua despersonalização frente à sociedade e a relaciona com o paradoxo de Teseu para refletir acerca de identidade. Utiliza da madeira como suporte para criar um fio condutor dos temas que aborda com o elo pessoal que tem com seu pai idoso.

As pinturas são retratos de pessoas idosas pintadas sobre uma base de gesso acrílico transparente, valorizando os veios da madeira aparentes. A superfície, desta forma, conta sua própria história: muda de cor, consistência e dureza com o tempo, mas permanece a mesma. O processo de transformação na madeira busca refletir a própria trajetória da identidade humana, especialmente no contexto do envelhecimento, a analogia com o trabalho em madeira ilustra que, apesar das mudanças, sua identidade permanece. 

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Em suas reflexões e pesquisa, se apropria do paradoxo de Teseu para se questionar se um objeto que teve todas as suas partes substituídas ao longo do tempo permanece o mesmo objeto, aplicando o dilema filosófico à identidade e às mudanças que ocorrem com o envelhecimento, da mesma forma a madeira utilizada como superfície, muda com o tempo, criando um dialogo com a seu pai que tem demência, visto que sua percepção, memória e personalidade passaram por mudanças significativas. Com a pessoa idosa, especialmente aquelas com demência, todas as "partes" (memórias, capacidades cognitivas, comportamentos) podem mudar ou se deteriorar. No entanto, a pergunta persiste: a pessoa ainda é a mesma? A identidade é um conceito fluido, assim como o navio que continua a ser identificado como o mesmo, apesar das substituições. 

Nesta série, o artista busca o encontro de uma conexão com o passado. A madeira preserva a essência da matéria-prima enquanto evolui e se transforma ao longo do tempo, mudando e permanecendo. Este processo reflete seu elo particular e reinsere sua própria identidade no mundo. Fortalecendo a prática de marceneiro, passada pelo seu pai, cria uma conexão entre seu trabalho e a continuidade de sua história familiar.